terça-feira, 13 de julho de 2010

A ditadura da informação



Em meados de março de 1964, o país sofreu com o regime militar cuja ditadura estabelecia conceitos rígidos na sociedade á época, permitindo que o exército brasileiro e a polícia militar pudesse prender e encarcerar pessoas consideradas "suspeitas", além de qualquer revisão judicial, inexistindo qualquer segurança jurídica ao cidadão, muito menos, inclusive, de liberdade de expressão.

Determinou-se censura aos órgãos de imprensa e sua Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP) funcionava como uma espécie de agência de propaganda.

A AERP produzia ainda músicas que enalteciam as realizações da ditadura: muitas eram cantadas obrigatoriamente nas escolas.

Livrarias, bibliotecas e casas de intelectuais foram "visitadas", sendo que todos os livros que falassem sobre Comunismo, Socialismo ou Reforma Agrária eram apreendidos.

Foi essa a época do autoritarismo e do sofrimento social em decorrencia da truculência daquele regime militar, do qual muitas vidas restaram ceifadas.

E vencer a ditadura militar foi tão importante quanto demonstrar que a coluna mestre de um Estado Democrático de Direito é justamente garantir a liberdade de expressão, com a consequente inviolabilidade do direito de opinião, ou seja, de escolha.

Todavia, essa liberdade de escolha, na medida em que "bombardeada" com mesmos assuntos, os mesmos "bonzinhos" e idênticos "garotos-maus" da mídia atual, faz-nos reféns, aprisionando-nos não nos mesmos moldes da ditadura militar, mas através do desafio e desdém no que tange ao nosso poder/dever de pensar diferente.

Atualmente, TODOS os canais de televisão retratam quase que 24 horas diárias a situação do golerio Bruno e seus colegas, que foram presos por suspeita de comandar a execução da jovem Elisa Samúdio.

As imagens televisivas mostram os "suspeitos" - até porque ainda não houve julgamento do mérito da questão - enclausurados, algemados e com as vestes prisionais.

Á evidência que não se quer defender tais sujeitos.

Entretanto, não se pode olvidar que a tarefa do jornalismo, ainda que investigativo, é apenas demonstrar os fatos á sociedade, deixando que esta tenha a liberdade de formar a sua própria opinião, sem bombardeios das mesmas informações, sem direcionamentos, muito menos julgamentos antecipados, cuja tarefa cabe única e exclusivamente ao órgão judicial, braço do Estado que guarda total observância dos ditames Constitucionais da ampla defesa, do contraditório, e da inocência.

A forma como são produzidas as notícias nos telejornais não só ferem tais princípios constitucionais, como também nos lembra a ditadura militar, sobretudo, ao nos obrigar a compartilhar de uma opinião já formada, já calcada em propósitos escusos, esquecendo-se que também somos dotados do poder de reflexão, de opinião.

Aparecer na televisão hoje, redunda em estrelato, em admiração e estar em evidência. Torna-se algo mítico.

Mas uma vez vendados os olhos do povo, obstruindo o seu poder de escolha, não causará mais espanto quando houver fogos, shous pirotécnicos, venda de churrasquinho e tumultos nas portas dos Fóruns no dia do julgamento dos facínoras.

A mídia, que necessita de tais acontecimentos, literalmente colhe aquilo que planta, e em seu exclusivo benefício.

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